sábado, 4 de dezembro de 2010

A fé.


Tenha fé!

Depois de desprezar seu poder por mais de um século, os cientistas comprovam: quem acredita na força espiritual vive mais e melhor.
Por Mariana Viktor.


Você já reparou que pessoas calmas resolvem melhor os problemas? Elas possuem uma espécie de confiança que não deixa o desespero chegar, mesmo em situações extremas. Um exemplo famoso é do menino Lin Hao, que, em 2008, após um terremoto que arrasou a província chinesa Sichuan, ficou sob os escombros da escola. Com apenas 9 anos, ele cantou enquanto esperavam um resgate que talvez nunca chegasse. Atitudes como a de Lin supõem mais do que temperamento equilibrado. É a confiança num poder maior que nos ampara. Essa fé pode não resolver os problemas miraculosamente, mas muda nossa atitude diante deles. Pode nos fazer cantar (ou ao menos manter a cabeça fria) em vez de entregar os pontos. O psiquiatra Harold Koening, do Centro de Estudo da Religião, Espiritualidade e Saúde da Universidade de Duke (E.U.A), afirma que quem se apóia na crença espiritual- isto é, numa força superior ligada ou não a uma religião- tem mais coragem e sabedoria para enfrentar as dificuldades.

Até a década de 80, a ciência torceu o nariz para esse fato, considerando a fé, uma característica de pessoas mais simplórias e negação da realidade. Hoje, os próprios cientistas concluem que ela é antídoto para o estress e pode prolongar a vida. “A explicação está ligada à diminuição da depressão, do suicido e do uso de drogas, bem como ao aumento do otimismo e da imunidade”, afirma Décio Iandoli, médico-cirurgião e vice-presidente da Associação Médico-Espirita Mato Grosso do Sul (AME/MS).

NÃO É MILAGRE.

Diversos centros universitários no mundo, como o Centro de Espiritualidade e Saúde da Universidade da Flórida (EUA) e o Centro de Estudos de Saúde, Religião e Espiritualidade da Universidade do Estado de Indiana, constataram que temos a surpreendente capacidade de interferir positiva ou negativamente sobre nosso estado físico e emocional.

“Pessoas que confiam no poder da fé conseguem atuar diretamente nos processos orgânicos. Elas diminuem a freqüência cardíaca, a pressão arterial e a produção de hormônios corticóides ligados ao estress, e isso as torna menos propensas a desenvolver doenças gastrointestinais, diabetes, hipertensão, depressão e males ligados ao sistema cardiovascular, endócrino e imunológico”, confirma Franklin Santos, professor colaborador de Tanatologia (estudo da vida e da morte) da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).

ORAÇÃO E CURA.

As pesquisas apontam, por exemplo, que o hábito de rezar aumenta a capacidade de adaptar-se às exigências da vida- a chamada resilência- e de superar a dor e a doença. “Aparelhos de neuroimagem mostram que durante a prece ou a meditação profunda ocorrem mudanças importantes nas funções cerebrais, que trazem mais tranqüilidade e equilíbrio a seus praticantes”, completa o doutor Décio.

Apesar de comprovado o poder benéfico do pensamento positivo e da crença em forças superiores (Deus, orixás, santos, espíritos, etc.), ainda há dúvidas sobre o efeito da prece intercessória- cura obtida através de orações de terceiros. “Rezar pelo outro faz bem para você, mas ainda não sabemos se surte efeito para que é motivo da oração”, diz Décio.

Alguns trabalhos indicam, porém, que as várias modalidades de toque terapêutico ou imposição das mãos induzem à cura ou a melhora dos sintomas no organismo alheio. Um desses estudos foi chefiado por uma grande pesquisadora do assunto, a professora Dolores Krieger, da Universidade de Nova York (EUA), e há trabalhos envolvendo práticas como Reiki, Johrei e o passe, com resultados comprovados até em plantas e animais. Como esses seres não se auto-sugestionam, afasta-se a hipótese de efeito placebo, que é quando os sintomas diminuem ou desaparecem por estarmos imaginando que aquilo realmente traz benefícios.

“Na verdade, o efeito placebo não é tão placebo como se imaginava: podemos criar bem-estar ou mal-estar a partir de nossos pensamentos e sensações. Se creio que tal terapia ou remédio é bom ou ruim, ele realmente poderá fazer bem ou mal”, afirma João B. Calixto, professor de Farmacologia da Universidade Federal de Santa Catarina.

A CRENÇA NO DIA A DIA.

Da mesma forma que os pensamentos confiantes e a fé na força do bem alteram positivamente as funções cerebrais, hábitos mentais de raiva, preocupações e pessimismo influem na saúde de forma negativa, gerando desde problemas gástricos até distúrbios mentais. Daí a importância de administrar com equilíbrio todos os nossos pensamentos e emoções.

Para que a fé traga resultados benéficos, ela precisa ser vivenciada diariamente como uma certeza interior. Não adianta ir à igreja e seguir rituais só para marcar presença. “ Agir assim é como rezar sem a alma, não desenvolve a fé”, diz Valeriano Costa, diretor da Faculdade de Teologia da PUC/SP. Da mesma forma, a busca por apoio espiritual só nos momentos de desespero não tem influência positiva na vida da pessoa. “ Essa fé de ‘emergência’ é insuficiente para trazer a serenidade. Ela precisa ser desenvolvida internamente”, afirma Décio. A crença prática, aquela incorporada nas atitudes e visão de mundo de cada um, apóia-se numa confiança no Deus dentro-de-mim e não é abalada pelo sofrimento. “Essa fé é construída quando passamos a refletir sobre aquilo em que acreditamos quando formamos juízo sobre a transcendência”, aponta Décio. E para isso a religião não é necessária, mas sim a espiritualidade, uma conexão íntima com o que a maioria de nós chama de Deus.

Quem desenvolveu a fé intrínseca enxerga esse poder até nos problemas. É o caso do ator Michel Fox, da trilogia De Volta para o Futuro. Em 1991, ele descobriu que sofria de Parkinson, doença degenerativa do sistema nervoso, e caiu em depressão. De repente encontrou uma força superior que agia dentro dele e agora convive com a enfermidade. Aos 49 anos, Fox escreveu um livro autobiográfico, Um Otimista Incorrigível (Ed. Planeta do Brasil), ganhou um prêmio Emmy e resume sua visão de mundo numa frase: “ Tento ver possibilidades em todas as circunstâncias- para tudo que nós é tirado, algo de grande valor nos é oferecido”.

Um comentário:

  1. Oi Lili,
    qual é a fonte desse texto? Muito profundo.Temos mesmo que refletir sobre a nossa fé diariamente. Quando vi a mostra Quem é o Homem do Sudário, em Brasília, entendi da importância de rever nossas práticas espirituais.
    E você, ja reviu a sua?
    beijos
    mom

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